Casar ou não casar? Boa pergunta.
As duas possibilidades são atraentes, fascinantes, sedutoras. Cada uma delas apresenta enormes e infinitas vantagens e desvantagens, e, na hora de decidir, só mesmo o amor 9em alguns casos, o dinheiro, com uma boa comunhão de bens) é que ajuda a resolver. Alguma coisa na vida é melhor do que quando ele chega do trabalho e te dá um abraço bem apertado dizendo que estava morrendo de saudade? Não precisar se programar para o fim de semana, para as viagens, pegando telefones de pessoas que nunca viu para não ficar sozinha num quarto de hotel? E o prazer quando ele pede “Amor, traz um copo de água pra mim”, na hora do telejornal, ou “Benzinho, viu meu livro?”: pode ser melhor? Saber que, quando pegar gripe, ele vai telefonar várias vezes do trabalho para perguntar se melhorou; dizer que te adora quando você estiver carente. E poder pedir para ele coçar suas costas, pegar a tesourinha, ter um colinho para ver o filme... ah, que coisa boa. Tudo bem, mas se a vida fosse assim tão fácil, não tinha graça. E para ele? Naquele dia em que o trânsito está daquele jeito, que não conseguiu acertar uma no trabalho, que o dinheiro esperado não entrou na conta; e você, sem saber de nada, abre aquele sorriso – aquele que o encantava tanto – e mostra o penteado novo, como ele reage? Justa ou injustamente, ele vai achar que é tudo culpa sua. E por acaso faz sentido alguém estar de bom humor com o país em crise? Se trabalhasse e enfrentasse uma boa fila de banco, ia entender melhor a vida e parava de sorrir como uma idiota alienada. Acreditou? Pois agora agüente. Como ele gostaria, nesse dia, de chegar em casa e poder tudo: deitar na cama sem tirar os sapatos e não ouvir ninguém dizendo “Cuidado com o lençol”; sair do banho para atender o telefone e ficar horas falando, enrolado na toalha, a torneira do chuveiro aberta; esquecer o forno aceso e queimar tudo, dane-se o jantar, dormir com fome às vezes é ótimo, contanto que não tenha ninguém para infernizar seu juízo. A liberdade é o maior dos bens, quem não sabe? Mas, na hora de dormir, como é bom uma presença, aquela impressão de não ser só, a certeza de ter com quem contar. Alguma coisa substitui essa sensação? Claro que não. E ainda tem o futuro, ou alguém acha que ficará jovem para sempre? Com quem vai ver televisão, quem vai cuidar dos seus achaques, conversar na insônia da madrugada? Todo mundo tem razão e cada um vai ter que achar sua resposta; resposta, aliás, que não existe. Todos nós adoraríamos ser casados na hora em que quiséssemos e absolutamente solteiros na hora em que bem entendêssemos, e quem não concordar está mentindo. Existem também os novos casamentos, casar e morar separados, não casar e morar junto; a humanidade ainda não desistiu de encontrar a solução para o problema homem/mulher (e equivalentes). Não vai encontrar nunca porque para isso não existe solução e essa conversa nunca terá fim. Mas está todo mundo procurando e, enquanto procura, que delícia.
Texto de Danuza Leão
Nenhum comentário:
Postar um comentário